RDCONGO: Países ocidentais desaconselham viagens ao norte e leste do país após ataques contra civis

O Governo do Reino Unido desaconselha a realização de viagens ao extremo-norte e a toda a região leste da República Democrática do Congo. Num comunicado emitido no passado dia 29 de Novembro, as autoridades britânicas alertam para a possibilidade de eclosão de incidentes violentos, dada “a contínua presença de grupos armados” em vastas regiões do país e as operações militares que as autoridades têm vindo a realizar.

Também Portugal mantém uma nota, no Portal do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a desaconselhar as viagens para este país “devido ao contexto politico e ao actual estado de segurança”. Na referida nota, esclarece-se que as regiões potencialmente mais perigosas estão situadas a “Leste e Nordeste da RDC”.

A nota das autoridades britânicas ocorreu praticamente logo após o ataque de sexta-feira à tarde, 29 de Novembro, em Maleki, uma povoação na província do Kivu do Norte. Três dias antes, outro ataque na mesma localidade tinha ceifado a vida a mais 14 pessoas. Ambos os incidentes terão sido da responsabilidade das ADF, as Forças Democráticas Aliadas, uma das milícias armadas em actividade na República Democrática do Congo.

Um dia antes de ser conhecida a nota do Departamento de Estrangeiros e da Comunidade Britânica, também os responsáveis da Organização Mundial de Saúde anunciavam a suspensão das operações em curso na cidade de Biakato, após dois ataques contra centros de prevenção do ébola.

Face ao agravamento da situação de segurança, as Nações Unidas enviaram já uma força de reacção rápida para o leste da República Democrática do Congo e foi decidido também o reforço das unidades dos capacetes azuis concentradas em Beni e Butembo.

A sucessão de ataques tem provocado também a revolta das populações locais que acusam as forças da ONU de não terem impedido o massacre de civis.

Padre José Arieira, da Missão Comboniana em Kisangani, reconhece, num texto que fez chegar à Fundação AIS, o clima de tensão que se faz sentir em algumas regiões do país, nomeadamente na cidade de Beni.

“A população mais uma vez tomou as ruas para se manifestar vigorosamente contra a insegurança que vem tomando conta da região há vários anos”, escreveu o sacerdote, acrescentando que “todas as atividades na cidade foram paralisadas”, referindo inclusivamente a existência de “barricadas nas ruas e, em vários lugares, testemunhas viram destroços de veículos em chamas”. “Toda uma população furiosa entrou na base das forças de manutenção da paz, onde – de acordo com as mesmas testemunhas – os manifestantes cantando ‘slogans’ anti-Monusco [as forças de manutenção de paz da ONU], derrubaram a parede da cerca.”

Nas últimas semanas calcula-se que mais de uma centena de pessoas tenham sido mortas em ataques da responsabilidade de grupos rebeldes neste país africano. A situação levou já a Conferência Episcopal da RDC a lançar um forte apelo à paz e ao reforço da segurança, em especial na região de Beni e nos planaltos de Minembwe, na região oriental.

O agravamento da violência, a que se junta a situação difícil causada pelo surto de Ébola, tem provocado a fuga em massa das populações, o que está a agravar a crise humanitária que já se fazia sentir no país. Os Bispos falam em casas e campos abandonados, assassinatos, interrupção da frequência escolar, epidemias e aumento da insegurança. Não há solução para esta situação dramática sem “o envolvimento das autoridades locais sob a liderança do governo congolês”, advertem os responsáveis da Igreja Católica.

A crise – de segurança e sanitária – que tomou conta da República Democrática do Congo tem vindo a agravar-se nos últimos tempos e levou inclusivamente o secretário-geral da ONU a visitar o país em Setembro. Na ocasião, António Guterres manifestou a sua solidariedade “na luta contra o terrorismo”, que classificou como sendo “uma ameaça para África e para o mundo inteiro”.

Na ocasião, António Guterres reafirmou o apoio das Nações Unidas  às forças congolesas no combate aos grupos armados e na “pronta resposta” às necessidades de segurança na região. “Espero que a minha presença aqui reafirme o meu apoio total à Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo, na luta contra os grupos armados que espalham medo e morte.”


Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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