Religiosa portuguesa afirma que a situação está "muito grave" para os cristãos no nordeste da Síria

A recente ofensiva militar da Turquia na região nordeste da Síria fez “aumentar bastante a insegurança” que se vive nesta zona e deixou a comunidade cristã ainda mais intranquila, afirma, à Fundação AIS, uma religiosa portuguesa a viver há mais de uma década neste país.

A operação militar desencadeada por Ancara no início do mês de Outubro, visa a implementação de uma faixa de segurança entre as fronteiras da Turquia e da Síria, afastando as forças curdas que se encontravam na região. Segundo a irmã Maria Lúcia Ferreira [conhecida como Irmã Myri] e que pertence à  Congregação das Monjas da Unidade de Antioquia, “esta ofensiva é um golpe no coração que faz com que os cristãos não vejam outra solução senão partir”.

Segundo a religiosa portuguesa, em mensagem áudio enviada para a Fundação AIS em Lisboa, apesar de o Daesh já não controlar nenhum território na Síria, ainda existem muitas “células adormecidas”, que a Irmã Myri descreveu como “pequenos grupos que estão no deserto e que de vez em quando atacam nas auto-estradas”.

Além dessas “células adormecidas”, haverá ainda uma presença relativamente significativa de jihadistas na zona de Idleb.

A Irmã Myri refere esse facto. “Faltava só libertar a região de Idleb aos terroristas e esperava-se [o início] da ofensiva do exército [sírio], que tem estado a recuperar terreno nesta região”. “Agora”, com a operação militar da Turquia contra os curdos – explica esta religiosa que vive em Qara no Mosteiro de São Tiago Mutilado – “aumentou a insegurança”. “Esta é uma antiga região habitada por cristãos e sobretudo refúgio para aqueles que fugiram ao genocídio arménio na altura da Primeira Guerra Mundial, não só contra os cristãos arménios mas também assírios e outros do sul da Turquia.”

A comprovar o aumento de insegurança de que fala a Irmã Myri e o sentimento de desproteção em que os cristãos se encontram, ainda recentemente, no passado dia 8 de Novembro, ocorreu o assassinato por terroristas do Daesh do sacerdote Hovsep Petoyan, da Igreja Católica Arménia, e do seu pai, durante a viagem que realizavam de Al-Hassake para Deir Ezzor. Aliás, horas mais tarde, a cidade de Qamishli, também no nordeste da Síria, seria abalada também pelas explosões de pelo menos três carros armadilhados, uma das quais ocorreu nas imediações da Igreja Católica Caldeia, provocando vários mortos e dezenas de feridos.

A Irmã Myri relata casos de famílias cristãs que viviam na fronteira entre a Turquia e a Síria e que se viram forçadas a vender os seus bens e a abandonar a região. “Há uma desesperança de ficar e a desconfiança de que a Turquia vai voltar a atacar os cristãos, como no passado. E também há uma grande insegurança face aos curdos que também pressionam à emigração dos cristãos." Por tudo isto, a Irmã Myri afirma que “a situação naquela região é realmente grave para os cristãos e eles estão a sofrer perseguição”, pedindo por isso, e através da Fundação AIS, as orações de todos. “É uma intenção de oração muito importante”, sublinha.

Mária Lúcia Ferreira nasceu numa aldeia da paróquia do Milharado, concelho de Mafra, Patriarcado de Lisboa, no dia 19 de Maio de 1981. Pertence à  Congregação das Monjas da Unidade de Antioquia e vive em Qara, na Síria, desde 2008, após ter passado pela França e pela Terra Santa.


Fonte: Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal


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