BURKINA FASO: Cristãos estão a ser perseguidos de localidade em localidade, expulsos e mortos

Os cristãos do Burkina Faso residentes nas localidades de Hitté e Rounga estão a ser alvo de ameaças por grupos extremistas, sentindo-se forçados a abandonar as suas casas para não se converterem ao Islão.

Segundo fontes contactadas pela Fundação AIS, outras comunidades cristãs estarão também a ser alvo de intimidação, podendo falar-se inclusivamente num “plano para semear o terror” neste país africano. Esta estratégia de amedrontamento está a provocar a fuga das populações, pois os terroristas têm afirmado que irão regressar e “que não querem encontrar nenhum cristão” nas proximidades.

Estas informações vêm corroborar a notícia divulgada na semana passada pela Fundação AIS de que cerca de 300 mil pessoas foram já forçadas a abandonar as suas casas nos últimos tempos por causa da violência crescente que se está a fazer sentir neste país.

Este deslocamento forçado das populações foi confirmado também pelo escritório local das Nações Unidas. Segundo a ONU, “os ataques armados e a insegurança continuam a afectar as zonas norte e leste do Burkina Faso, obrigando a um deslocamento forçado das populações”.

Os ataques contra as comunidades cristãs tiveram início em Maio, em Toulfé, quando jihadistas mataram cinco pessoas que participavam numa celebração religiosa. Posteriormente, os terroristas avançaram para Babo, onde os cristãos foram também alvo de ultimato. Muitos fugiram e haverá pelo menos três pessoas assassinadas entre os que decidiram permanecer na cidade. Entre os mortos está Jean-Paul, um responsável local por grupos de oração entre a comunidade cristã.

Já este mês, o alvo foi a localidade de Hitté. “No início de Setembro, 16 homens chegaram à vila e interpelaram as pessoas que regressavam dos campos”, foi explicado à Fundação AIS por habitantes locais. “Alguns foram forçados a entrar na igreja e aí ameaçaram os cristãos de que teriam de deixar as suas casas em três dias.” Enquanto isso, outros extremistas foram queimando o que encontravam pelo caminho. Segundo a fonte contactada pela Fundação AIS, “Hitté ficou sem cristãos”.

De Hitté, os homens armados pertencentes a estes grupos extremistas chegaram a Rounga. Calcula-se que, apenas nestas duas localidades, “fugiram quase duas mil pessoas” acolhidas, entretanto, “numa escola primária em Ouindigui”. Uma localidade vizinha, Titao, também alberga muitos cristãos em fuga.

As fontes da Fundação AIS, cuja identidade importa preservar por questões de segurança, enfatizam que se está perante “uma situação muito difícil de gerir” mas que desencadeou – e importa sublinhar isso – uma onda de solidariedade que inclui também elementos da população muçulmana.
Como a Fundação AIS publicou na semana passada, já no início de Agosto o presidente da Conferência Episcopal do Burkina Faso e do Níger, o bispo de Dori, D. Laurent Birfuoré Dabiré, havia denunciado os massacres de cristãos por parte de grupos jihadistas que actuam com apoio do exterior e que, segundo ele, “estão melhor armados e equipados” do que os elementos do exército nacional.

“Se o mundo continuar a não fazer nada, o resultado será a eliminação da presença cristã”, alertou o presidente da Conferência Episcopal. Os grupos jihadistas – afirmou o prelado – “foram-se instalando” dentro do país, “atacando o exército, as estruturas civis e a população”. Agora – acrescentou o presidente da Conferência Episcopal – “os cristãos parecem ser o alvo principal. Eu acredito que eles estão a tentar desencadear um conflito inter-religioso”.

Sobre a origem destes grupos armados que têm vindo a aterrorizar as populações no norte do Burkina Faso, não há dados concretos. As armas usadas nos diversos ataques “não são fabricadas” localmente, asseguram à Fundação AIS.

O Burkina Faso é um dos países mais pobres do mundo. O norte faz fronteira com o Mali, país que luta há muito tempo contra extremistas islâmicos. Além do Mali, o Burkina Faso também partilha fronteiras com mais cinco países: Níger, Gana, Costa do Marfim, Benim e Togo.

“Existe – como refere a Fundação AIS no último Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo – o perigo de a crise e a instabilidade política se espalharem em toda a região.” De facto, os grupos jihadistas estão a actuar cada vez mais para além das fronteiras nacionais nesta região de África.

“Estas organizações – pode ler-se ainda no documento – incluem o Boko Haram, uma milícia terrorista activa sobretudo na Nigéria mas responsável por ataques no Níger e nos Camarões.” A norte, há também a ameaça do Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico.  “Como consequência”, conclui o Relatório da Fundação AIS, “o Burkina Faso está ameaçado pelo jihadismo literalmente por todos os lados”.

Recorde-se que, em consequência desta ameaça regional,  o Burkina Faso, o Mali, a Mauritânia, o Níger e o Chade estão a trabalhar já em conjunto com os militares franceses presentes na região, tendo constituído uma força comum anti-terrorista.


Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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