Profanação de igrejas num curto espaço de tempo obriga à tomada de medidas de protecção na Costa do Marfim

A diocese de Yopougon, perto de Abidjan, tem sido alvo nos últimos tempos de diversos actos de vandalismo com a profanação de igrejas. Segundo relatou o Bispo local, D. Jean Salomon Lézoutié, o primeiro caso “aconteceu na véspera das celebrações de Natal na paróquia de São João Baptista, onde os agressores atacaram a igreja de Nossa Senhora do Mar, na cidade de N'Djem”.

O segundo episódio teve como alvo “as Irmãs da Cruz e da Paixão na paróquia de São Bernardo de Adiopodoumé”, a cerca de 10 quilômetros de Abidjan. “A custódia, com a hóstia no interior, foi roubada”, esclareceu ainda o prelado.

Estes actos de vandalismo ocorreram num curto espaço de tempo, entre Dezembro passado e o mês de Fevereiro deste ano, o que, para o bispo Lézoutié, é um sinal “preocupante” que obriga a Igreja a “tomar medidas” de protecção.

Apesar de a Costa do Marfim estar a viver dias relativamente calmos no que diz respeito à convivência entre religiões, a verdade é que há sinais de um crescimento da influência islamita no país.

D. Ignace Bessi Dogbo (foto), Bispo da Diocese de Katiola e presidente da Conferência Episcopal da Costa do Marfim, afirmou recentemente à Fundação AIS que “ultimamente estão a surgir tendências islamistas vindas de outros países, como o Mali e a Nigéria”, e que isso poderá traduzir-se num cerco intimidatório à comunidade cristã.

Para D. Ignace Dogbo, esses sinais podem ser vistos nos esforços “para garantir que haja mais casamentos entre homens muçulmanos e mulheres cristãs”, pois, neste caso, “as mulheres são obrigadas a converter-se e as crianças recebem uma educação muçulmana”.

O prelado indicou também o caso, recente, de “muitos empresários de Marrocos” que começaram a investir na Costa do Marfim mas que “privilegiam os parceiros muçulmanos”.

Segundo este Bispo, há também uma crescente tentativa de aliciamento dos jovens cristãos que devem converter-se ao Islão em troca de promessas de trabalho.

A influência do Islão parece estar a crescer na Costa do Marfim ao mesmo tempo que a Igreja Católica enfrenta dificuldades materiais­.

Diz D. Ignace Dogbo que, quando viaja pelo país, vê “muitas mesquitas recém-construídas à beira das estradas, enquanto as nossas igrejas e capelas estão frequentemente em péssimas condições”. E acrescenta: “se as igrejas não irradiam nada, então é difícil conquistar o coração do povo”...

Para dar a volta a esta situação complexa, é preciso, diz este prelado, de mais sacerdotes. “Precisamos de padres! Muitos candidatos ao sacerdócio provêm de famílias pobres, que muitas não podem pagar os materiais necessários para os seus estudos. Desse modo, a ajuda material e uma sólida formação espiritual são essenciais. Eu sei que para isso posso contar com a Fundação AIS!”

No último Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, produzido pela Fundação AIS e em que são avaliados todos os países no período compreendido entre Junho de 2016 e Junho de 2018, é referido que há uma “manifesta falta de estabilidade na Costa do Marfim”, visível nas “profundas tensões sociais, crime violento em particular em Abidjan e arredores, e violência étnica em zonas rurais que ocasionalmente resulta em derramamento de sangue”.

No Relatório da Fundação AIS é referido ainda que “a Costa do Marfim tornou-se num alvo do jihadismo internacional em Março de 2016, quando um ataque em Grand Bassam perto de Abidjan matou 22 pessoas”. Esse ataque, classificado como “um dos mais sangrentos” na África Ocidental, foi reivindicado pela Al-Qaeda do Magrebe Islâmico, uma organização terrorista activa na região.

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