Venezuela: "As pessoas precisam de ajuda para comprar alimentos e medicamentos. Mas também precisam de ajuda pastoral"

“Falta tudo. Muitas pessoas alimentam-se apenas de arroz e feijão. A situação é especialmente crítica nos hospitais… não há medicamentos. (…) Sem a solidariedade dos Cristãos não poderíamos sobreviver! Sou especialmente grato pela ajuda que os benfeitores da Fundação AIS nos dão. As pessoas precisam de ajuda para comprar alimentos e medicamentos. Mas também precisam de ajuda pastoral. Os sacerdotes e os fiéis precisam de oportunidades para se relacionar e fortalecer com Deus. Obrigada também pelas vossas orações!”
Entrevista com D. Manuel Sánchez, Arcebispo de Calabozo, Venezuela

A Venezuela já foi um dos países mais ricos da América do Sul. Actualmente tem uma inflação até um milhão por cento; grande parte da população está mergulhada na miséria. O que significa esta crise para as pessoas em concreto?

Um exemplo da vida quotidiana: alguém vai a uma loja e pergunta quanto custam alguns alimentos. A pessoa vai buscar o dinheiro e regressa uma hora depois. Nessa altura o preço já subiu. Há falta de tudo. Muitas pessoas comem apenas arroz e feijão. A situação é especialmente crítica nos hospitais: não há medicamentos. Em parte, são os próprios pacientes que os têm de arranjar e para tal vendem os seus objectos de valor. Muitas pessoas vêem a emigração como a única solução.

Ouve-se repetidamente falar no agravar da situação na fronteira com a Colômbia. Inclusivamente tiveram de fechar a fronteira algumas vezes. Muitas pessoas ficam por ali porque não têm dinheiro para os documentos de saída. O que sabe sobre essa situação?

É sobretudo a Igreja que cuida das pessoas. Isto pode dizer-se do lado venezuelano, mas também da Colômbia, Equador, Peru e Chile, que são os países para onde se dirige o maior número de pessoas. As comunidades na fronteira fornecem alimentos e oferecem a possibilidade de alojamento durante a noite ou de assistência médica. Partilham o pouco que têm. Agradecemos muito essa solidariedade.

A Venezuela apresenta-se como um estado socialista moderno. Isso também provoca dificuldades à Igreja?

O sistema político da Venezuela é um mosaico de diversas influências: socialistas, conservadoras, combinadas com ideias ateístas, espiritistas e muitas mais. Sempre houve tentativas de dividir os bispos, mas não conseguiram. Ao mesmo tempo, Chávez e o actual presidente, Nicolás Maduro, também reconheceram os tratados assinados pelos governos anteriores com a Igreja Católica. Isto refere-se sobretudo às escolas católicas: 10% das escolas na Venezuela são propriedade da Igreja, incluindo muitas escolas de formação profissional. Isso, naturalmente, também favorece o Estado. Muitos políticos também se apresentam conscientemente como muito religiosos. Simultaneamente, os representantes públicos já não participam, por exemplo, nas ordenações de bispos. É uma situação ambígua.

Como é a vida da Igreja?

Cerca de 75% dos Venezuelanos são católicos e permaneceram fiéis à fé. Repetidas vezes ouço dizer que a Igreja é a instituição na Venezuela com maior credibilidade. Mas, naturalmente, a crise também influencia a vida eclesial: por exemplo, por razões económicas não é possível organizar actividades de massa, como as Jornadas da Juventude ou um Encontro de Famílias. E onde não há tal encontro, não há comunidade. Especialmente grave é a situação dos sacerdotes. Muitos ficam isolados porque têm de dar assistência a uma paróquia muito extensa sozinhos, frequentemente no mundo rural. Por motivos económicos, não é possível participar em reuniões ou comprar bens de primeira necessidade. Também houve casos em que as congregações tiveram de deixar o país porque não tinham condições económicas para manter o convento e o seu trabalho.

A Igreja na Venezuela pode fazer alguma coisa para dar resposta às necessidades das pessoas?

Não desistimos do nosso compromisso no campo da escola e da educação. Queremos oferecer aos jovens a possibilidade de construírem um futuro melhor. Em algumas paróquias, os sacerdotes distribuem medicamentos que recebem do exterior. Uma acção muito bem sucedida são as chamadas "panelas solidárias", em que voluntários cozinham nas paróquias para os pobres com alimentos oferecidos. Eles ficam muito agradecidos porque sabem que os recursos da Igreja são muito limitados.

O que pode fazer concretamente uma organização como a Fundação AIS para ajudar a Venezuela?

Não estou habituado a pedir esmolas, por isso estou especialmente grato pela ajuda que os benfeitores da Fundação AIS nos dão. As pessoas precisam de ajuda para comprar alimentos e medicamentos, mas também precisam de ajuda pastoral. Os sacerdotes e os fiéis precisam de oportunidades para se relacionar e fortalecer com Deus. Já referi os encontros diocesanos que são muito importantes. Também há falta de bíblias e materiais para a catequese. A subsistência dos sacerdotes é muito importante, os estipêndios de Missa são para muitos a única fonte de rendimentos necessários para sobreviver.



Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

Comentários