SÍRIA: Núncio apostólico denuncia sofrimento das populações e alerta para “ferozes confrontos” em bairros de Damasco

Apesar de todos os esforços de mediação da paz, a Síria continua mergulhada na violência, com o surgimento de novas frentes de guerra no enclave curdo de Afrin e com “ferozes confrontos” em alguns bairros da capital, nomeadamente na zona rural a leste da cidade.

Ainda na passada segunda-feira, dia 5, tiros de morteiros atingiram a área do Patriarcado siro-ortodoxo, situada em Damasco no distrito de Bab Tuma, causando pelo menos dois mortos e três feridos. Os morteiros foram lançados por grupos armados que ainda controlam os subúrbios orientais da cidade.

O disparo destes morteiros para o coração da capital da Síria demonstra que o conflito continua bem aceso neste país.

E não foi apenas na segunda-feira que se registaram ataques. Na quarta-feira da semana passada, o Cardeal Mario Zenari, núncio apostólico na Síria, testemunhou também combates que voltaram a ensombrar Damasco.

Segundo declarou então à Vatican News, “foi difícil dormir porque havia o barulho dos tiros de canhões e das metralhadoras” em diversas áreas da periferia da cidade, corroborando notícias que davam conta de “ferozes confrontos” na “área rural a leste de Damasco”.

A estes combates soma-se, ainda, alerta o prelado, “a intervenção armada da Turquia”, iniciada a 20 de Janeiro no norte do país e que se está a revelar profundamente trágica para as populações locais.

As forças do exército turco, apoiadas pela aviação e por elementos do chamado “exército livre sírio” procuram libertar o enclave curdo-sírio de Afrin da presença do que chamam os “terroristas” do YPG, as forças da Unidade de Protecção do Povo Curdo.

Sobre o desenrolar desta operação, que foi baptizada pelo presidente turco, Tayyp Erdogan, com o nome de código de “Ramo de Oliveira”, há notícias contraditórias, com Ancara a anunciar cerca de 800 “terroristas neutralizados” e o controle de grande parte da cidade de Bulbul, enquanto, por outro lado, os curdos asseguram que atacaram com mísseis a cidade turca de Reyhanli, situada na fronteira.

Perante estes sinais evidentes de que a guerra na Síria está longe do seu epílogo, o Cardeal Zenari lança um veemente apelo ao fim dos combates, tanto mais que as temperaturas que se fazem sentir nesta altura do ano, “defrio muito intenso em algumas áreas” do país, agravam profundamente o “sofrimento” das populações.

Reconhecendo que, “infelizmente, não há soluções no horizonte”, o núncio apostólico na Síria apela a todas as partes envolvidas nos combates, assim como aos negociadores internacionais, para que actuem em favor da paz. 

“Procurem fazer todos os possíveis para, pelo menos, se chegar ao fim da violência, ao cessar-fogo e, depois, a uma solução política para o conflito”, pediu o responsável.

Já na semana passada a Fundação AIS tinha dado conta dos mais recentes ataques registados em bairros cristãos de Damasco, nomeadamente no domingo, dia 22 de Janeiro. Nesses bombardeamentos, que visaram os bairros de Bab Touma e al-Shaghour, zonas historicamente cristãs, e que causaram pelo menos nove mortos e dezenas de feridos, algumas igrejas assim como o edifício da catedral foram também atingidos.

Também a Irmã Annie Demerjian, que pertence à Congregação das Irmãs de Jesus e Maria, e que vive na Síria, denunciou, numa mensagem enviada para o secretariado português da Fundação AIS, esta nova onda de ataques que tem atingido particularmente a comunidade cristã na capital da Síria.

“Desde o Ano Novo que temos sido bombardeados em toda a cidade de Damasco – afirma esta religiosa. São bombas lançadas pelos rebeldes em direcção aos bairros residenciais, especialmente nos lugares onde vivem os cristãos".

Nessa mensagem, a Irmã Annie agradece “as orações e o apoio” dos portugueses, nesta hora tão difícil, e afirma que não consegue compreender a razão deste novo surto de ataques.

A guerra civil síria começou há quase oito anos e provocou já mais de 400 mil mortos e cerca de 5 milhões de refugiados, além de 8 milhões de deslocados dentro do próprio país.


Foto © DR | Veja a situação da liberdade religiosa nSÍRIA no RELATÓRIO SOBRE A LIBERDADE RELIGIOSA



Fonte: Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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