Neste dia 14 de Fevereiro de 2018, quarta-feira de cinzas, começa a Quaresma. Para este tempo, o Arcebispo de Évora escreveu a seguinte mensagem:
A Quaresma é
considerada um tempo forte da vivência cristã. O papa Francisco,
seguindo a tradição dos seus antecessores, todos os anos nos dá o
mote para a vivência desse tempo forte. Este ano fê-lo a partir de
uma frase do Evangelho que nos alerta para os efeitos negativos
desencadeados pela multiplicação da iniquidade no ambiente social,
recorrendo aos mais variados meios. Com efeito, são muitos os que,
por falta de formação sólida ou de consistência interior, cedem
às influências das acções perversas praticadas à sua volta.
Quando isso acontece, aumenta a maldade no mundo e resfria-se o amor
na família, na escola, no ambiente de trabalho e nas relações
humanas em geral.
MENSAGEM
QUARESMAL PARA 2018

Ora, na
sociedade actual, existem muitos sinais de aumento da agressividade e
de resfriamento do amor. E o papa Francisco, atento aos sinais
emitidos pelos comportamentos sociais, adverte-nos paternalmente com
palavras sábias do Evangelho: porque se
multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos Mt 24,12).
Todos devemos prestar atenção a tão bela e sábia advertência,
pois ninguém se pode considerar imune aos efeitos negativos do
resfriamento do amor.
O tempo
quaresmal proporciona-nos uma ocasião excelente para nos precavermos
contra o resfriamento do amor, porque nos ajuda a ver o sentido da
nossa vida à luz da Palavra de Deus e nos aponta meios para nos
purificarmos dos males que inquinam a nossa vida e nos distanciam dos
nossos irmãos. Antes de mais, o tempo quaresmal convida-nos à
oração. Não
simplesmente para implorar favores temporais para nós ou para os
outros, mas uma oração iluminada pela Palavra revelada que nos
coloca na rota de Deus e nos aproxima dos outros seres humanos,
nossos irmãos. Uma oração que nos permita escrutinar o tipo de
relação que mantemos ou não com as outras pessoas, a começar
pelas que vivem mais perto de nós. Pode ser uma oração sem
palavras. Mas há de ser uma oração de verdade, que projecte luz
sobre as zonas escuras da nossa vida, nos aqueça o coração,
evitando o resfriamento do amor.
A luz da
oração ilumina e aquece, incentiva e orienta. Quem reza descobre o
caminho para refazer os percursos errados, quebrar amarras, abrir
caminhos novos, ainda que seja à custa de algum sacrifício pessoal,
que é necessário e vale a pena, quando fortalece os laços do amor.
É neste contexto que a Igreja nos fala do jejum,
isto é, da renúncia aos interesses pessoais, ao egoísmo, para
pensarmos no bem dos outros. Não se trata de renúncia sem sentido
mas de renúncia para alcançar um bem maior. Acima dos bens
materiais está o bem espiritual, acima da satisfação pessoal está
a compaixão pelos outros. Quando alguém, por razões de fé, se
abstém de alimentos, com esse procedimento mostra que reconhece
valor aos bens espirituais e, nomeadamente, à caridade para com os
mais carenciados.
Nesta
perspectiva, a renúncia ou jejum há de ter como consequência a
esmola. Aquilo que a
mim me sobra pertence aos outros, que se encontram em situações de
carência ou passam por dificuldades a que eu fui poupado. Mesmo que
não vivam à minha porta, são da minha raça, são seres humanos
como eu, são filhos do mesmo Pai do Céu. Possuem a mesma dignidade
original, merecem o meu amor e a minha compaixão, não apenas de
sentimentos ou de palavras mas traduzidos em actos concretos.
Meus caros
diocesanos, convido-vos a que vos empenheis na vivência da Quaresma,
dedicando tempo à leitura da Palavra e à oração, abstendo-vos de
alguns bens materiais e fortalecendo os laços de amor com os
necessitados, pela partilha de bens materiais, intelectuais e
espirituais. Em concreto, faço-vos um veemente apelo a favor dos
cristãos da Síria, país onde a guerra civil persiste há oito anos
e já provocou quatrocentos mil mortos, cinco milhões de refugiados
e oito milhões de deslocados, dentro do próprio país. Uma
autêntica calamidade de contornos indefinidos e com tendência a
agravar-se. Nós vivemos em paz. Como poderemos agradecer a Deus tão
maravilhoso dom? Partilhemos generosamente com os nossos irmãos os
dons espirituais pela oração e os dons materiais pela renúncia
voluntária e pela esmola.
Como nos
outros anos, peço à Caritas Diocesana que divulgue pelas paróquias
da Arquidiocese esta mensagem e os envelopes para recolha da renúncia
que cada um entender por bem fazer em favor dos nossos irmãos da
Síria.
+José,
Arcebispo de Évora
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