Arcebispo de Évora: “Prefiro uma pegada segura do que uma derrapagem dolorosa” (ACTUALIZADA)

“Estamos todos desejosos de retomar as celebrações comunitárias, mas a última palavra deve ser sempre das autoridades sanitárias. Prefiro uma pegada segura do que uma derrapagem dolorosa”, afirmou ao Jornal de Notícias, ao início da manhã da passada Segunda-feira, dia 20 de Abril, o Arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, manifestando “toda a confiança” no que vier a ser decidido pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), na certeza que essas decisões terão por base os pareceres científicos e estarão de harmonia com as orientações governamentais.

A suspensão das Missas, recorde-se, foi determinada a 13 de Março, pela CEP, ainda antes de ser decretado o Estado de Emergência em Portugal. Esta medida, decidida pelos Bispos de Portugal, foi assumida na consciência que apanhava um dos períodos mais importantes para a Igreja Católica, a Páscoa, o que levou a que Bispos e Padres recorressem às redes sociais para transmitir as celebrações realizadas à porta fechada, sem assembleia.

Agora, que se começa a desenhar um possível plano de levantamento da suspensão, o Arcebispo de Évora interroga-se sobre a possibilidade de se poder voltar a abrir os espaços de culto católico para os fiéis poderem rezar na sua intimidade, mas sempre “no cumprimento das regras de segurança sanitária”, para evitar que tenha sido em vão todo o esforço que tem vindo a ser feito pelas autoridades e pela generalidade da população.

Antes do encontro entre o Primeiro-Ministro e o Cardeal-Patriarca de Lisboa, em declarações à Rádio Observador, na manhã da passada Segunda-feira, dia 20 de Abril, o Arcebispo de Évora sublinhou que a Igreja Católica tem de ouvir a opinião dos especialistas em saúde pública, mas aponta também algumas das medidas que podem vir a ser utilizadas. “Não é fácil dizer quem entra e quem não entra na igreja”, disse o Arcebispo de Évora, acrescentando que “os párocos vão precisar de orientações muito objectivas, e ao mesmo tempo de apoio, porque haverá situações em que não será fácil decidir. Nomeadamente, quando digo que são muitas pessoas que querem participar, não se vai dizer que ‘o senhor não pode entrar, a senhora não vai entrar’.”

“De uma maneira geral, a Missa dominical, podemos por exemplo estabelecer com clareza que quem participa na Missa Vespertina de Sábado sabe com generosidade dar o seu lugar a quem vai participar na Missa do Domingo, dando a vez ao seu irmão, prescindindo de participar em duas Missas dominicais. Temos de manter a distância entre as pessoas, teremos porventura de usar máscara. São possibilidades que vamos percebendo que podem ser realidade”, exemplificou o Arcebispo de Évora.
Para D. Francisco Senra Coelho, é fundamental que as orientações da Igreja sejam sustentadas no aconselhamento técnico. “Temos de referenciar, antes de tudo, a opinião daqueles que têm especialidade sanitária e que possam dizer a situação concreta que vivemos, lê-la, para que seja possível fazermos uma acção concertada, mas ao mesmo tempo uma acção com toda a qualidade. A qualidade aqui é, objectivamente, a prudência, para que não criemos qualquer situação de risco”, explicou.

Salientando que a decisão cabe, em última análise, aos Bispos Católicos, o Arcebispo de Évora destaca que é “importante” que exista um “acompanhamento técnico muito cauteloso”. Essa “não é a nossa especialidade concreta, não é a saúde pública, não são os cuidados sanitários, tem de haver um acompanhamento muito cuidadoso da situação, porque as coisas também mudam de região para região”.

“Na zona do Alentejo, são muito marcantes as celebrações relacionadas com os defuntos. Os funerais, as missas do 7.º dia, do 30.º dia, onde se juntam sempre muitas e muitas pessoas, os amigos além da família”, exemplifica e interroga como lidar com esta realidade na nossa Arquidiocese, a mais extensa de Portugal (que abrange Paróquias dos Distritos de Évora, Portalegre, Santarém e Setúbal), tendo em conta que se tratam de momentos humanos muito sensíveis pela sua ligação com a despedida de entes queridos falecidos. “Todos desejamos regressar à vida normal. Não há ninguém que não deseje retomar todas as suas actividades, os seus direitos de cidadania, a sua liberdade de movimentação. Também os católicos praticantes desejam, nomeadamente, participar nas celebrações dominicais.” “Porém, não o podemos fazer sem um discernimento seguro e um acompanhamento especializado eficaz”, concluiu.

Em posterior conversa telefónica com “a defesa”, D. Francisco Senra Coelho sugeriu a todos que aguardássemos “serenamente as orientações que a CEP fará emanar em breve”, conforme o seu último comunicado, emitido na tarde de 21 de Abril, onde se pode ler: “como aconteceu no princípio desta epidemia, o Conselho Permanente está a preparar orientações gerais, em diálogo com as autoridades governamentais e de saúde, para quando terminar esta terceira fase do estado de emergência, com a retomada possível e gradual das celebrações comunitárias da Eucaristia e outras manifestações cultuais”.

(ACTUALIZADA às 23h de 21 de Abril)


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