REPÚBLICA CENTRO AFRICANA: Igreja acusa mercenários estrangeiros de controlarem mais de 70 % do país e de quererem saquear as riquezas do subsolo

A República Centro-Africana está numa situação de caos, com um conflito aberto entre grupos armados muçulmanos, os Séléka, e grupos de auto-defesa, os Antibalaka, que têm vindo a espalhar a violência, o sofrimento e a morte na população civil.

O Arcebispo de Bangui, Cardeal Dieudonné Nzapalainga, veio agora afirmar que a persistência deste conflito, apesar da presença no terreno de forças das Nações Unidas, nomeadamente através de um contingente português, se deve também à existência de mercenários estrangeiros contratados localmente por “alguns irmãos nossos por razões políticas, económicas, étnicas e egoístas”.

O Arcebispo de Bangui considera ainda que estes mercenários vêm “minar a coexistência e complicar o diálogo” necessário para se colocar um travão na situação dramática em que se encontra a República Centro-Africana desde 2013.

Durante uma celebração eucarística no final do mês de Setembro, em que se assinalaram os 125 anos de evangelização católica da arquidiocese de Bangui, o Cardeal acusou “grupos armados e aqueles que os apoiam” de terem “a hegemonia sobre os activos” do nosso país, acrescentando que “o enriquecimento excessivo e rápido de alguns em detrimento dos outros preocupa-nos”.

As palavras do Arcebispo de Bangui vão no mesmo sentido das de D. Juan José Aguirre, Bispo de Bangassou.

Este prelado, que tem sido uma das vozes mais activas na denúncia da situação trágica em que se encontra a República Centro-Africana, esteve recentemente no Brasil, a convite da Fundação AIS, e concedeu uma entrevista ao programa Catequista TV.

Na ocasião, D. José Aguirre afirmou que, perante o aumento da violência entre os grupos armados, as Organizações Não-Governamentais (ONG’s) que estavam a desenvolver trabalho humanitário deixaram o país. 

A UNICEF partiu… Os Médicos Sem Fronteiras partiram… Todas as ONG’s foram embora. Os organismos da ONU (o PAM, que é o Programa Alimentar Mundial), foram embora também. Só ficou a Igreja. A Igreja é a última que apaga a luz”, disse D. Aguirre.

O Bispo de Bangassou corroborou também a acusação do Arcebispo de Bangui apontando o dedo à presença de mercenários, de forças estrangeiras no país. “Agora mesmo, a Rússia chegou à República Centro-Africana em busca de cobalto. Cobalto para as baterias do futuro. A Rússia está a chegar e a guerrear com a França. Os países do Golfo e o Chade estão a guerrear com outros países…”

Na entrevista ao canal de televisão brasileiro, o Bispo de Bangassou traçou ainda um retrato dramático da violência que tem sido exercida contra as populações. Ninguém está a salvo. Nem a Igreja.

Durante a guerra, das 11 missões da diocese de Bangassou, nove foram vandalizadas, completamente saqueadas”, explicou o prelado. “Roubaram-nos tudo… menos a fé! Nós temos fé. As motos, os carros, as placas solares, as baterias… roubaram-nos tudo. Só nos resta a fé.”


Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

Comentários