Jovem postulante denuncia, em mensagem enviada para a Fundação AIS, o massacre de dezenas de pessoas na RD do Congo

Numa mensagem enviada no passado fim-de-semana para Lisboa, para a sede da Fundação AIS, um jovem postulante a uma congregação missionária masculina, que não pode ser identificado por questões de segurança, denuncia a ocorrência de massacres contra as populações na região de Beni, na República Democrática do Congo.

Não há praticamente nenhum dia em que não haja vítimas de massacres”, afirma este jovem. “No entanto – acrescenta –, “os mais chocantes” foram os que ocorreram entre os dias 3 e 15 de Setembro, “que causaram mais de 40 mortes e a debandada da população”.

Nos dias seguintes, até ao final do mês passado, “foi atacado o centro da cidade de Beni”, onde se encontra uma guarnição de tropas congolesas assim como da MONUSCO (os capacetes azuis ao serviço das Nações Unidas no Congo).

Em consequência desse ataque, segundo o jovem postulante, foram mortas duas pessoas e raptadas 15 crianças e jovens. “Até uma criança de 3 meses foi raptada”, explica, adiantando que “durante os massacres, um suposto rebelde foi morto” e não tinha “qualquer identidade, a não ser a de militar”.

Esse facto levantou alguma perplexidade nas populações levando-as a terem dúvidas sobre quem são e o que pretendem os grupos armados que têm vindo a semear o terror e a morte na região. “Tudo leva a crer que era um membro de uma guarnição militar do Congo. Isso, até prova em contrário, deixa-nos perplexos a ponto de não sabermos quem são realmente os supostos rebeldes que matam os seus compatriotas inocentes e por quê?

Além dos massacres e dos sequestros denunciados na mensagem enviada para Lisboa, o jovem postulante recorda que a região – que compreende além de Beni também as localidade de Ruvenzori e Oicha – enfrenta um surto de Ébola que terá já causado pelo menos 80 mortos.

O Ébola veio reforçar ainda mais o enfraquecimento da região a todos os níveis”, explica o postulante, acrescentando que a epidemia está a provocar o isolamento da região assim como o seu despovoamento. Por tudo isso, “é necessário que a população local continue a observar as medidas preventivas disponibizadas pelos serviços de saúde para limitar os danos ao mínimo possível”. “Mas como fazê-lo em plena ameaça de guerras?” – pergunta este jovem que está prestes a prosseguir o seu discernimento para a vida religiosa ingressando no noviciado.

Como que a justificar o envio desta mensagem para o exterior, o jovem postulante afirma que ninguém da sua geração pode ficar indiferente a tudo o que se está a passar.

Como poderíamos ficar em silêncio sobre tais situações? As consequências são sérias: mortes repetidas, a taxa de pobreza aumenta de dia para dia nas famílias, o número de crianças marginalizadas, traumatizadas, viuvez e escola fechadas, aldeias desertas… Ninguém desta geração pode ficar indiferente ao sofrimento deste povo.

Na mensagem enviada para Lisboa, o jovem postulante lança como que um apelo ao mundo para que o drama que se tem abatido sobre este país africano chegue ao fim. “Na República Democrática do Congo todos os meios são permitidos para que o poder actual continue”, ignorando-se “a vida dos cidadãos, como se a única realidade fosse as riquezas naturais do Congo, esquecendo que a verdadeira riqueza são as pessoas”, afirma o postulante, acrescentando que “a luta ainda é um longo caminho a percorrer”.




Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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