NICARÁGUA: "A mentira é quase tão perigosa como as balas, porque cria uma psicose de guerra"

Fontes próximas da Igreja Católica na Nicarágua acusam a falta de neutralidade dos meios de comunicação e pedem cautela na hora de ler as últimas notícias sobre a grave crise que o país atravessa nos últimos meses, particularmente  as que chegam através das redes sociais, muitas das quais são falsas como, por exemplo, a notícia da semana passada sobre o assassinato de D. Abelardo Mata, Bispo da Diocese de Estelí.

"A guerra que estamos a viver neste preciso momento é também uma guerra dos média, lugar para onde se deslocou grande parte deste conflito," asseguram em conversa com a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) as mesmas fontes, que preferem manter o anonimato por razões de segurança.  Ao mesmo tempo denunciam "a mentira, a confusão, o obscurantismo que estamos a viver neste momento é tão grave como o disparo de balas porque criam uma psicose de guerra, uma psicose de medo".

imparcialidade afecta ambas as partes do conflito. "Os media afectos ao Governo não informam sobre os disparos da polícia ou dos paramilitares e quando fazem alguma referência é só para dizer que a culpa é dos Maras (grupos de crime organizado). Por sua vez, os media que não alinham com o Governo inventam rumores infundados e "também não informam se houve morte de polícias e pessoas relacionados com o regime ou quando incendeiam os escritórios das câmaras municipais. Exemplo disto seria a morte de três camponeses no passado Domingo por serem próximos da frente Sandinista, facto "que não saiu nos média que não pertençam à frente".

Novamente, de acordo com a mesma fonte, uma das maiores preocupações prende-se com aradicalização das duas frentes desde o início do conflito no passado 18 de Abril, quando os cidadãos foram convocados através das redes sociais a recusar as reformas do Instituto da Segurança Social que previa um aumento da quota a pagar pelos trabalhadores da Nicarágua e ao mesmo tempo um corte nas pensões e reduções dos apoios sociais. Os confrontos surgiram quando os partidos que apoiam o Governo do presidente Daniel Ortega saíram à rua para apoiar as reformas. Desde então a repressão e a violência por parte das forças paramilitares que apoiam o Governo, contra as pessoas que protestam não pára de aumentar.

"Importa lembrar que há 30 anos houve uma guerra civil na Nicarágua. Neste momento as feridas foram reabertas e estão a ficar cada vez mais profundas. É ódio." Por esta razão, neste momento é urgente criar "processos de reconciliação. Os verdadeiros apóstolos são aqueles que falam de perdão, perdão, perdão".

O Cardeal Mauro Piacenza, presidente internacional da Fundação AIS, ao procurar responder ao apelo dos bispos da Nicarágua no seu comunicado do dia 14 de Julho, realça a importância das campanhas de oração pela Nicarágua promovidas em diferentes países do mundo pela Fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre. 

"Em tempos difíceis como estes que a Nicarágua está a atravessar, o povo vê na Igreja um grande apoio moral. Portanto é fundamental apoiar a Igreja nesta difícil tarefa. A missão central da Fundação AIS é acompanhar a ajuda pastoral com a informação, para chamar a atenção de todas as comunidades cristãs e do mundo inteiro sobre estes dramas violentos e dolorosos. Mas acompanhar também com a oração que é o motor e a força para todas as mudanças", acrescenta o Cardeal Piacenza.


Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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