Religiosa descreve dias de "inferno" na região de Damasco, com morteiros e bombas a caírem em bairros cristãos

A violência que se tem abatido na região de Damasco parece estar a crescer de intensidade de dia para dia, particularmente na zona leste de Ghouta onde, nos últimos dias, terão perdido a vida mais de 250 pessoas.

A Iirmã Annie Demerjian, responsável pelo acompanhamento de projectos de ajuda humanitária da Fundação AIS na Síria, descreveu o ambiente de caos absoluto que se está a viver na região, com morteiros a caírem indiscriminadamente nos bairros cristãos.

Na tarde da passada terça-feira, 20 de Fevereiro, esta religiosa, que pertence à Congregação das Irmãs de Jesus e Maria, escapou da morte por pouco, tal como os seus alunos, quando uma saraivada de bombas varreu a zona do seu convento, no Bairro de Bab Touma, na chamada “cidade velha”.

Em mensagem enviada à Fundação AIS, a Irmã Annie diz que, no meio da confusão que se gerou com os bombardeamentos, com “pessoas a correr” procurando abrigar-se com os seus filhos, “um morteiro caiu no telhado do Patriarcado, perto de nós”. “Felizmente – continua a religiosa – não explodiu, pois, caso contrário, poderíamos ter morrido.”

As janelas do edifício onde a Irmã Annie se encontrava tremeram com as explosões, e geraram o pânico entre os estudantes que procuraram refugiar-se nos corredores mais abrigados. Os sinais de violência estão em toda a parte. As escolas, afirma a Irmã Annie, “estão fechadas”.

Recordando a intensidade dos disparos que atingiram aquele bairro cristão de Damasco, esta religiosa – que já esteve em Portugal a convite da Ajuda à Igreja que Sofre – fala mesmo num dia de “inferno”. “Choviam bombas. Eram tantos os feridos…” O relato da Irmã Annie Demerjian prossegue, dizendo que, apesar de tudo, apesar da guerra, é preciso continuar. “Temos de ir em frente. A vida é mais forte do que a morte. Não sabemos quanto tempo esta violência vai continuar, mas não pode durar para sempre. O Senhor tem sido bom para connosco. Até agora – reconhece a Irmã Annie – nenhuma religiosa da nossa congregação ficou ferida, mas muitas outras pessoas têm sofrido. Para nós, o único caminho é a oração.”

A Irmã Annie Demerjian lança um veemente apelo às orações dos cristãos em Portugal e em todo o mundo, para que a guerra possa terminar na Síria, para que possa terminar de vez o sofrimento indizível das populações. “Por favor, rezem por nós. O único caminho é a oração

A descrição dos bombardeamentos nesta região de Damasco são a confirmação das palavras da Irmã Myri, a jovem religiosa portuguesa que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, em Qara, que na semana passada declarou à Fundação AIS estarem a ocorrer ataques frequentes contra bairros cristãos na capital da Síria.

Maria de Lúcia Ferreira, que irá fazer 38 anos em Maio e que pertence à Congregação das Monjas da Unidade de Antioquia, e que é conhecida simplesmente como Irmã Myri, afirmou, nessa mensagem, que os combates “incidem sobre bairros habitados por cristãos” na região de Damasco e que são o resultado do esforço do exército sírio para libertar por completo a região de milícias armadas.

Em resposta, afirmou esta religiosa portuguesa, “os jihadistas lançam roquetes, e bombardeamentos sobre os vários bairros” em torno da capital, referindo expressamente os bairros de Jobar, Al Midan, Jaramana, Dwel’a e Bap Touma.

O apelo da Irmã Annie Demerjian às orações dos portugueses e dos cristãos em todo o mundo para o fim da guerra na Síria foi  evocado no passado sábado na grande iniciativa internacional que a Fundação AIS promoveu e que juntou Portugal, Itália, Iraque e Síria.

“Combater a indiferença” e lembrar ao mundo a perseguição religiosa foi um dos principais objectivos desta jornada de oração e de sensibilização que uniu, iluminando de vermelho, a cor do sangue, a cor dos mártires, o Santuário do Cristo Rei, em Almada, a Basílica dos Congregados em Braga, o Coliseu de Roma – um dos primeiros símbolos da perseguição aos Cristãos –, assim como a Catedral maronita de Santo Elias, em Alepo, na Síria, e a Igreja de São Paulo, em Mossul, no Iraque, dois dos países em que, nos tempos actuais, a violência religiosa mais se tem acentuado.

Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal

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